sexta-feira, 12 de abril de 2013

SOS Penanduba


Ao ler a descrição, fiel descrição, da corajosa e destemida subida à montanha dos jovens desbravadores, Augusto, Benedito, Hélio e Tainá, até o cume da Serra da Penanduba, fiquei impelido a reconstruir algumas imagens-sentimento de um passado já distante sobre as onças-pretas, macacos-guaribas, raposas, veados, cobras cascavéis, cobras jiboias (cobra-de-veado) e gatos-maracajás (jaguatirica), que eram os componentes da fauna desta formação montanhosa chamada de Penanduba, localizada próximo a Araquém, distrito pertencente ao município de Coreaú, no Estado do Ceará. Era e é uma área praticamente desabitada pelo homem, mas contumazes ações e explorações deletérias do próprio homem contribuíram para que seu rico ecossistema fosse praticamente dizimado. 

Coreaú, na primeira metade dos anos cinquenta do Século XX, era provida de poucos arruamentos desprovidos de calçamento. A iluminação pública só funcionava no horário das 18 às 22 horas, período em que os habitantes adultos sentavam-se em cadeiras nas calçadas em rodas de papos – Jornal da Noite – referentes ao cotidiano da população, enquanto as crianças brincavam de contar e ouvir estórias, esconde-esconde, pernas de pau, jogo da macaca, e os mais taludos flertavam com as meninas que jogavam pedra, brincavam de roda, de prenda e de anel com os meninos. O anel, ao ser colocado escondido nas mãos de um dos participantes, era motivo de fantasiosas sensações durante o roçar das mãos das meninas com as dos meninos, daí surgiam muitos namoros e casamentos. 

Muitas estórias estão presentes no imaginário dos coreauenses presentes e de antanho, algumas associadas aos mistérios da Serra da Penanduba e manifestadas nas estórias de trancoso, e muitas incorporadas ao domínio público por decorrência de contos e causos criados por caçadores e figuras populares tipo Chagas da Onça, pacato conterrâneo que além de muito trabalhador e ligado à ambiência campesina, era exímio contador de causos e histórias com mirabolantes versões tipo ter visto uma formiga gigante nos altos de uma carnaubeira a se alimentar do seu fruto. Nos anos cinquenta era comum ver esticados para curtição solar, nas calçadas de Coreaú, couros de jiboias, veados e gatos-maracajás (jaguatirica), resultantes da caça predatória, que, depois de secos e curtidos, eram vendidos aos comerciantes de Sobral e, a partir daí, seguiam em demanda para Fortaleza, São Paulo e exterior e transformados em sapatos, roupas e disputados acessórios de uso masculino e feminino. 

Àquela época, o nível de consciência ecológica da população era quase inexistente, o que contribuiu para a dilapidação do ecossistema, o que ainda continua até hoje, talvez de forma menos intensa. Em todo caso, aquilo, na minha meninice, causava-me mal estar em ver os “frutos” da matança dos animais. Em consonância, um temor era gerado pelas fantasias descritas pelos caçadores que iam desde a existência de caiporas e coisas do “outro mundo”, até ferozes onças-pretas, talvez uma forma de compensação para a dor de consciência e suporte de justificativa daqueles que provocavam a trágica matança e agressão à natureza. 

Os ipês ou paus-brancos, além de outros espécimes vegetais, foram praticamente dizimados e não replantados. Nada restou, a não ser a bela montanha que divisa com a Frecheirinha, bela e azul ao longe, mesmo desmatada, mas árida e quase desértica na visão próxima de sua área territorial, situada bem no epicentro do semiárido do sertão onde se encrava Coreaú e municípios circunvizinhos. As fontes d’água gostaria que ainda persistissem, estas são minhas esperanças e quem sabe possa ressurgir um projeto ou programa de revitalização do ecossistema com a necessária e educativa proteção ambiental, de todo o espaço da serra e que, por decorrência, poderia se adequar ao ecoturismo de trilhas, ideia já sinalizada pelos desbravadores citados, pois imagino que no seu cume ainda resta algo da bela natureza, além de uma temperatura mais amena que deve se reduzir em pelo menos 3.º C entre a máxima e a mínima da região, pois pertinente ao clima de montanha.

Galba Gomes 
Membro da APL

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